A vida

 A vida

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Ainda havemos de percorrer todas as calçadas

desta cidade perdida entre pedras mal amadas

iremos conhecer o  instante do rio ao mar imenso 

com esta brisa salgada que nos lembra o partir

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Perder o nosso olhar no azimute entre ceu e terra

apreciando os golpes de asa que a circundam 

procurando poiso num beiral de janela esquecida

com a saudade propria de quem só vê 

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Os vasos perdidos em varandas de outrora 

quando era o ponto de ir mais além entre paredes

e agora estão para ali sem terem um propósito 

são só pedra e cal escurecida pelo passado 

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O aroma a vidas escravizadas pela rotina

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.Borealis in Aurora

 

Navegar

 Navegar

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Podiamos içar velas e partir 

sair deste sempre aqui presente

e ir de encontro ao sonho mais proximo

neste nosso mar de lágrimas 

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Dar sentido ao vento incerto 

zarpar fazendo do mundo bombordo

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.Borealis in Aurora

Conjugar

 Conjugar

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Quero-te , do verbo amar 

conjugado em surdina noturna 

palavra desprendida e repentina

quase como se fosse gemer 

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Porque há momentos assim

em que a alma se despe do corpo

e vai por toda a parte beijar-te 

porque só a tua boca me salva 

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E se mais não fosse de dizer 

bastaria o teu nome sussurrado

para criar sobressalto no meu peito

nem do ar preciso tanto 

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Mais e mais até ser proibido 

porque enquanto não o for eu quero mais

mais de ti e da tua sombra 

porque só faço sentido em ti 

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Do verbo querer e do superlativo te

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.Borealis in Aurora

Não vês

 Não vês

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Que isto de ser imortal ainda vai acabar mal 

esta nossa mania de colecionarmos os dias 

como se houvesse precedente e seguinte infinitos

ainda nos leva por caminhos já caminhados 

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Não vês que a cada segundo que passa tu passas

perdes um pouco de ti e de tudo por acontecer

até que chega o dia em que feitas bem as contas 

percebes que de tanto somar só podes perder 

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Segue esse ziguezaguear e infeliz indiferença

e sem que sintas o movimento o chão começa a fugir

ao mesmo ritmo que as lágrimas despontam 

como uma flor que só floresce com arrependimento

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Não vês que gastamos a vida a esquecermos ser felizes

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.Borealis in Aurora

Meu pé de laranja-lima

Meu pé de laranja-lima

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Meu pé de laranja-lima 

leva-me á memória dos campos sem fim 

onde o vento fazia dançar o feno 

e sussurrava me os segredos do mundo 

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Não cresças dizia suplicando 

mas a natureza pedia-me o contrario 

queria aventura e todas as incertezas

dava-me a mão e pedia brincadeira

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Ora flores , ora folhas e todas as cores

passaram os dias e os arco-iris 

assim como a intempérie dos maus dias

e fiz-me isto , esta saudade de tudo

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.Borealis in Aurora

Sossega

Sossega 

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Sossega , 

a vida assim ainda tropeça

e quando deres conta é tarde

tudo passou menos o arrependimento

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Sossega ,

os dias suplicam pela tua mudança

assistindo ao desperdício dos dias 

porque tens pressa sabe-se lá de quê

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Sossega , 

deixa que o mundo dê as suas voltas

pois todas as verdades serão mentira

é tudo questão de mais dia menos dia

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Sossega , 

entrega-te ao acaso e vive os momentos

coleciona todo tipo de migalhas na vida

um dia quando deres conta , serão memória

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.Borealis in Aurora

Mãe

Mãe

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 E do tudo fez-se o nada 

e esse nada tinha a forma de homem

moldado ao mais ínfimo erro e pormenor

com a alma impregnada de negro abissal

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E do tudo fez-se o nada 

veio o ódio disfarçado de misericórdia 

apagaram-se as estrelas no céu imenso

porque o absurdo teme a luz 

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E do tudo fez-se o nada

e á distancia de dois braços o carinho espera

espera que haja um pouco de calma 

para que o colo adormeça a besta

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.Borealis in Aurora